Que o entretenimento foi um dos setores mais prejudicados pela paralisação imposta pela pandemia da Covid-19 não deixa dúvidas. Porém, insistindo na arte da resistência e entendendo a importância de colocar o holofote na população trans, o espetáculo Jennifer estreia no próximo dia 17 dezembro e fica até o dia 20, às 20h, através do aplicativo Zoom. Protagonizado pela atriz Matheuzza Xavier e com Zeca de Abreu no elenco, a história busca ressignificar estigmas e proporcionar à sociedade um contato mais amplo com a comunidade Lgbtqia+, especialmente a trans, que em sua grande maioria é excluída do mercado de trabalho. Não à toa que cerca de 90% destas pessoas estão trabalhando em subempregos, como a prostituição.
“Poder estar em um espetáculo que nos traz visibilidade; em que temos a possibilidade de vivenciar as nossas identidades de travesti, de pessoa trans, é muito gratificante. A sociedade nos coloca uma carga histórica de fetichizar; de estereotipar; de patologizar. É como se a gente pertencesse ao submundo, num universo de segregação que só nós convivemos e entendemos, porque todas as possibilidades de trabalho, de auxílio à saúde , a educação, de bem estar, são negadas. O Brasil infelizmente ‘ostenta’ o pior lugar do mundo para uma pessoa travesti e trans viver. Nossa expectativa de vida é de 35 anos, contra 74 da expectativa do país”, analisou Matheuzza.
Dirigida e escrita pelo ator, diretor e dramaturgo Oliveira Pedreira, Jennifer tem o intuito de dar voz e atenção a estas pessoas que se encontram no limbo social , sendo sempre alvo de todos os tipos de preconceitos. “A história surgiu de uma inquietação: ‘Quem somos nós para julgarmos os outros?’ Já vinha pensando muito sobre o universo T dentro da comunidade Lgbtqia+. Então, resolvi escrever o espetáculo após ver uma foto de Zeca e Matheuzza em uma aula. Naquele momento, percebi que elas seriam as personagens que norteariam o enredo. Em seguida, deixei as informações, os dados e as vivências me conduzirem na escrita e hoje temos mais que uma obra artística que agregou pessoas, deu voz aos que antes não tinham e que vai ser objeto de representatividade para tantos e tantas pessoas lgbtqia+ em especial o universo T, que merece todo nosso respeito e reparação por tantas atrocidades feitas contra estas pessoas”, avaliou Oliveira.
Com um final surpreendente, a história gira em torno da relação conflituosa de Jeniffer com sua mãe Nazaré (Zeca de Abreu), que não aceita sua orientação e condição sexual, e o namorado Gustavo (Sidnaldo Lopes). “Pra mim fazer esse espetáculo foi a abertura de uma porta. Faço teatro há muitos anos e com a pandemia questionei o lugar da arte nesse momento. Foi aí que apareceu Oliveira Pedreira com o convite para esse processo todo online. Topei e logo de cara tive contato com um universo cheio de possibilidades e belezas em que nós, enquanto sociedade, precisamos conhecer e preservar. Fiquei apaixonada pelo texto e pela minha personagem ‘Nazaré’, que é uma mãe vítima de um sistema de opressão social e psicológica que torna pessoas boas em vilões trágicos. Jennifer é um daqueles espetáculos para tocar uma geração”, definiu Zeca.
O elenco conta ainda com grandes nomes do teatro baiano, como Zé Carlos de Deus, Lene Nascimento, Enzo Iroko, Nana Dió, Lavigne Rosa e Morgana Lobo. As apresentações contarão ainda com uma conversa sobre o processo de construção pandêmica e de como a equipe – formada por pessoas Lgbtqia+ – enfrentou e enfrenta os preconceitos no intuito de seguir com sua arte e ainda tentar conscientizar a população. A produção é feita em simbiose com a escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia e conta com a colaboração de Maurício Pedrosa. Agradecimentos especiais a Carlos Cajaíba, Hebe Alves, Seu Geraldo e Fred.
Serviço:
Apresentações de 17 a 20 de dezembro pelo Zoom
Horário: 20:00.
Ingressos no Sympla.
Valores:
1. Gratuito Estamos Juntes
2. R$ 5,00 Fortaleço seu Corre
3. R$ 10,00 Intolerância Nunca Mais.
4. R$ 20,00 Viva a Diversidade
5. R$ 40,00 Todes Pela Arte
6. R$ 100,00 Patrocinador(a) do Amor
Foto: Divulgação